sexta-feira, 28 de maio de 2010

Para sobreviver, a escravidão por contrato

Sem ter como prover seu próprio sustento, a cafuza livre Joanna Baptista passa escritura de venda de sua própria liberdade

Manuela Carneiro da Cunha

   Em agosto de 1780, em Belém do Pará, uma mulher livre se vende como escrava. O caso é inusitado e requer um despacho do ouvidor: “caso bastardo”, diz ele, mas que se deve deixar à vontade expressa dos envolvidos, a cafuza que vende sua liberdade e o catalão que a compra. Uma escritura pública de venda é feita em tabelião, diante de testemunhas.
   Joanna Baptista havia nascido livre, filha de uma índia e de um escravo negro, ambos a serviço de um mesmo padre. Mortos os pais e o senhor, ela se declara desvalida – “sem Pay nem May que della podessem tratar e sustentar assim para a passagem da vida como em suas moléstias, e nem tinha meios para poder viver em sua liberdade, e para poder viver em sossego, empregando-se no serviço de Deus e de um senhor que dela tivesse cuidado e em suas moléstias a tratasse" – e desejosa de ser escrava, supondo que quem a tivesse pago por dinheiro teria interesse em mantê-la e cuidar dela.
   A idade da postulante à escravidão não é mencionada na escritura, embora, criada em casa de padre, não devesse ser desconhecida. Devia ser jovem, já que falava dos filhos que acaso viesse a ter, e que a eles a escravidão não seria transmitida – cláusula provavelmente inócua. Quanto a ela própria, seria escrava enquanto vivesse e poderia ser vendida a terceiros.
Joanna Baptista se vende por 80 mil-réis, 40 mil em dinheiro, 40 mil em adereços de ouro e “trastes” para se vestir. Declara ter recebido o dinheiro e as joias, e que iria receber adiante os trastes correspondentes aos 22 mil-réis que faltavam.
   O despacho do ouvidor é de uma singular displicência. Diante de matéria inusitada, ele evoca vagamente o direito romano, pede a presença dos interessados e, ante suas declarações, decide que prevaleça a livre vontade dos contratantes. Dois séculos antes, a questão da legalidade da venda de si próprio em escravidão havia sido discutida de forma exaustiva. Nenhuma menção é feita pelo ouvidor a esse amplo debate, por ignorância, descaso ou expediente.





sexta-feira, 21 de maio de 2010

No último jogo no país antes da Copa, no dia 21 de maio de 1958, Seleção Brasileira goleou Corinthians por 5 a 0 no Pacaembu. Pelé se contundiu no joelho e quase foi desconvocado

CBF NEWS


   No dia 21 de maio de 1958, a Seleção Brasileira se despediu do país, para a viagem para a disputa da Copa do Mundo da Suécia, enfrentando o Corinthians, em amistoso no Pacaembu. Havia um grande descontentamento da torcida do Corinthians pela não convocação do meia Luisinho, ídolo do clube, e o jogo foi então marcado. Luisinho era mesmo um grande jogador, mas a Seleção Brasileira, praticamente com a formação que estrearia no dia 8 de junho contra a Áustria, venceu com facilidade, goleando por 5a 0.
  Vicente Feola escalou o ataque com Garrincha, Didi, Mazzola, Pelé e Pepe. Garrincha (dois), Pepe (dois) e Pelé marcaram os gols da partida que quase custou a viagem de Pelé para a Suécia. Atingido duramente no joelho pelo lateral-esquerdo Ari Clemente, Pelé teve de sair de campo, substituído por Vavá, e esteve ameaçado de desconvocação. Foi mantido no grupo pelo técnico Vicente Feola, mas viajou contundido e sem condições de participar dos amistosos na Itália contra Fiorentina e Internazionale e dos dois primeiros jogos do Mundial, contra Áustria e Inglaterra.
-O Ari Clemente jogava duro e pegou forte o Pelé. Ele esteve para ser cortado, mas a comissão técnica resolveu mantê-lo mesmo machucado. Mas ele era o titular e só por isso ficou de fora dos primeiros jogos - conta Pepe, companheiro de Pelé no Santos e na Seleção.
-Pepe também viajou para a Suécia com a convicção de que seria titular. Tanto que foi escalado de saída nos amistosos do dia 29 de maio contra a Fiorentina e do dia 1 de junho contra o Internazionale, ambos vencidos pelo Brasil por 4 a 0. Na Fiorentina, Pepe marcou dois gols. No jogo contra o Internazionale, sofreu a contusão que o deixou sem condições de ser aproveitado.
-Até hoje me lembro do nome do jogador que me pegou. Pior que nem era meu marcador, foi o ponta-direita Bicicli, que me atingiu no pé de apoio. Depois do jogo, fomos para a Suécia, e eu tive de viajar de chinelo, pois meu tornozelo estava muito inchado. Fiz tratamento, mas quando consegui recuperar 70% das minhas condições, o Brasil já estava na semifinal.








                                                         Pelé e Pepe








Corinthians x Seleção Brasileira

Data: 21 de maio de 1958.
Competição: amistoso.
Local: Estádio do Pacaembu, São Paulo .
Árbitro: João Etzel Filho (Brasil).
Gols: Mazzola, aos 37; Pepe, aos 56 e 57; Garrincha, aos 81 e 84.

BRASIL: Gilmar (Corinthians-SP); Djalma Santos (Portuguesa de Desportos-SP), Bellini (Vasco-RJ), Orlando (Vasco-SP) e Nílton Santos (Botafogo-RJ); Zito (Santos-SP) depois Dino Sani (São Paulo-SP) e Didi (Botafogo-RJ); Garrincha (Botafogo-RJ), Mazzola (Palmeiras-SP), Pelé (Santos-SP) depois Vavá (Vasco-RJ) e Pepe (Santos-SP). Técnico: Vicente Feola

CORINTHIANS: Aldo; Cássio (Idário) e Olavo, Walmir (Homero), Benedicto e Ari Clemente; Bataglia, Luizinho, Índio (Paulo), Rafael e Zague. Técnico: Cláudio Christóvam de Pinho.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cientistas encontram mais antigo ancestral humano na Etiópia

'Ardipithecus ramidus' viveu há 4,4 milhões de anos. Macacos e homens tiveram evolução distinta há muito mais tempo.

 Do G1, com agências internacionais

O crânio e a mandíbula do Ardipithecus ramidus; animal foi descrito como o mais antigo ancestral do homem      (Foto: Reprodução/Science)

   A família que resultou no que chamamos humanidade está 1 milhão de anos mais velha. Cientistas descobriram um ancestral dos homens atuais de 4,4 milhões de anos. O Ardipithecus ramidus (ou apenas “Ardi”, como é carinhosamente chamado) foi descrito minuciosamente por uma equipe internacional de cientistas, que divulgou a descoberta em uma edição especial da revista “Science”.
    O espécime analisado, uma fêmea, vivia onde hoje é a Etiópia 1 milhão de anos antes do nascimento de Lucy (estudado por muito tempo como o mais antigo esqueleto de ancestral humano).
   “Este velho esqueleto inverte o senso comum da evolução humana”, disse o antropólogo C. Owen Lovejoy, da Universidade Estadual de Kent. Em vez de sugerir que os seres humanos evoluíram de uma criatura similar ao chimpanzé, a nova descoberta fornece evidências de que os chimpanzés e os humanos evoluíram de um ancestral comum, há muito tempo. Cada espécie, porém, tomou caminhos distintos na linha evolutiva.

'Ardipithecus ramidus' significa 'raiz dos macacos terrestres'
   "Este não é o ancestral comum, mas é o mais próximo que chegamos", disse Tim White, diretor do Centro de Evolução Humana da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Os humanos atuais e os macacos modernos provavelmente tiveram um ancestral comum entre 6 milhões e 7 milhões de anos atrás.
   Ardi, porém, tem muitas características que não aparecem nos macacos africanos atuais, o que leva à conclusão de que os macacos evoluíram muito desde que nós dividimos o último ancestral comum.
   O estudo de Ardi, em curso desde que os primeiros ossos foram descobertos, em 1994, indica que a espécie vivia nas florestas e que poderia subir em árvores. O desenvolvimento de seus braços e pernas, porém, indica que eles não passavam muito tempo nas árvores: eles podiam andar eretos, sobre duas pernas, quando estavam no chão.
   "Esta é uma das descobertas mais importantes para o estudo da evolução humana", disse David Pilbeam, curador de paleoantropologia do Museu de Arqueologia e Etnologia de Harvard. "É relativamente completo, na medida em que ficaram preservadas a cabeça, as mãos, os pés e algumas outras partes importantes. Ele representa um gênero possivelmente ancestral dos Australopithecus – que eram ancestrais do nosso gênero Homo", disse Pilbeam, que não fez parte das equipes de investigação.

"Quando você olha da cabeça aos pés, vê uma criatura que não é nem chimpanzé, nem é humano"

   Os cientistas montaram o esqueleto do Ardipithecus ramidus (que significa “raiz dos macacos terrestres) com 125 peças do esqueleto encontradas. Lucy, também encontrada na África, prosperou um milhão de anos após Ardi e foi um dos Australopithecus mais semelhantes aos humanos.
  "No Ardipithecus temos uma forma não especializada que não evoluiu muito em direção aos Australopithecus. Então, quando você olha da cabeça aos pés, você vê uma criatura que não é nem chimpanzé, nem é humano. É Ardipithecus", disse White.

"Darwin disse que temos de ter muito cuidado. A única maneira de sabermos como este último ancestral comum se parecia é encontrando-o"

   O pesquisador lembrou que Charles Darwin, cujas pesquisas no século 19 abriram o caminho para a ciência da evolução, foi cauteloso sobre o último ancestral comum entre humanos e macacos. "Darwin disse que temos de ter muito cuidado. A única maneira de sabermos como este último ancestral comum se parecia é encontrando-o”, afirmou White. “Em 4,4 milhões de anos, encontramos algo muito próximo a ele."

Alguns detalhes sobre Ardi:

- Ardi foi encontrada em Afar Rift, na Etiópia, onde muitos fósseis de plantas e animais (incluindo 29 espécies de aves e 20 espécies de pequenos mamíferos) foram descobertos. Achados perto do esqueleto indicam que, na época de Ardi, a região era arborizada.
- Os caninos superiores de Ardi eram mais parecidos com os pequenos e grossos dentes de humanos modernos do que com os grandes e afiados caninos de chimpanzés machos. Análise do esmalte dentário sugere uma dieta diversificada, que incluía frutas, folhas e nozes.
- Ardi possuía um focinho saliente, dando a ela uma aparência simiesca. Mas não tão para a frente como os focinhos dos macacos modernos. Algumas características de seu crânio, como a área sobre os olhos, diferem muito dos chimpanzés.
-Detalhes do fundo do crânio, onde nervos e vasos sanguíneos encontram o cérebro, indicam que o órgão ficava posicionado de maneira semelhante ao dos humanos modernos. Segundo os pesquisadores, isso indicaria que os cérebros dos hominídeos já estavam posicionados para abranger áreas que envolvem aspectos visuais e de percepção espacial.
-Suas mãos e punhos eram uma mistura de características primitivas e modernas, mas não possuíam marcas características dos modernos chimpanzés e gorilas. Ela tinha as palmas das mãos e os dedos relativamente curtos, que eram flexíveis e permitiam que aguentasse o peso do próprio corpo enquanto se movia por entre as árvores. Mesmo assim, ela tinha de tomar muito cuidado ao escalar, pois faltava-lhe as características anatômicas que possibilitam aos macacos atuais balançar, agarrar e mover facilmente entre as árvores.
-A pelve e o quadril indicam que os músculos dos glúteos eram posicionados de modo que ela pudesse andar em pé.
- Seus pés eram rígidos o suficiente para caminhar, mas o polegar era grande o bastante para possibilitar escaladas.

Ilustração indica como seria a espécime encontrada na Etiópia (Foto:Reprodução/Reuters)





Possível nova ancestral humana é achada na Sibéria

'Mulher X' poderia ter vivido há meros 30 mil anos. Pesquisadores desconfiam que criatura seja parente dos 'hobbits'.

Da Reuters

   Material genético retirado de um osso de dedo mindinho achado em uma caverna siberiana mostra que um tipo de pré-humano até agora desconhecido viveu junto com humanos modernos e Neandertais, relataram os cientistas.
   A criatura, apelidada por enquanto de "Mulher X", poderia ter vivido há meros 30 mil anos, e aparentemente guarda parentesco apenas remoto com os humanos modernos e os Neandertais, segundo os pesquisadores.
   "Realmente pareceu algo que nunca vimos antes", disse por telefone Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha. "Era uma sequência (de DNA) que parecia como a de humanos, mas realmente bem diferente."
   Em artigo na revista Nature, Krause e seus colegas disseram que conseguiram sequenciar o DNA da mitocôndria, parte da célula que é transmitida praticamente intacta de mãe para filha. Eles compararam-no ao DNA de humanos, Neandertais e macacos.

Terceiro hominídeo

   A sequência indica que esse hominídeo divergiu há cerca de 1 milhão de anos da linhagem que deu origem a humanos e Neandertais, a qual por sua vez se dividiu há cerca de 500 mil anos.Dessa forma, a "Mulher X" é mais jovem que o "Homo erectus", pré-humano que deixou a África para colonizar boa parte do mundo há cerca de 1,9 milhão de anos.
   "É alguma nova criatura que não estava no nosso radar até agora", disse Svaante Paabo, colega de Krause e especialista em análise de DNA antigo.
   Além disso, esse humanídeo teria vivido perto de humanos modernos e de Neandertais. "Havia pelo menos três... diferentes formas de humanos nesta área há 40 mil anos", disse Paabo.

Sem nome

   Os dois pesquisadores tiveram o cuidado de ainda não conferir um novo nome à espécie. Eles estão trabalhando para sequenciar o DNA nuclear -- aquele que compõe a maior parte do código genético, e que poderá nos contar mais sobre a "Mulher X".
   O sequenciamento genético pouco revela aos cientistas sobre a aparência da criatura ou sua interação com outros humanos que viviam nas montanhas Altai, na Sibéria, onde o dedo mindinho foi achado. Os cientistas ainda esperam encontrar mais ossos, que permitam eventualmente reconstituir o esqueleto desses hominídeos. As condições secas e frias dos montes Altai preservam o DNA.
   Paabo e Krause disseram que teoricamente é possível que a criatura esteja relacionada a outra possível terceira espécie humana -- o "Homo floresiensis", apelidado de "hobbit", que viveu em uma ilha da atual Indonésia há cerca de 17 mil anos.
   A equipe tentou sem sucesso obter DNA de ossos dos "hobbits". A maior parte dos esqueletos de pré-humanos foi achada em lugares quentes e úmidos, como a África, que não são propícios à preservação do material genético.





quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Revolta dos marinheiros contra os castigos da chibata - 1910 [parte II]

Naquela noite o clarim não pediria silêncio e sim combate”.

(João Cândido, depoimento a Edmar Morel)

por Samuel Lima

   No dia 16 de novembro de 1910, o Rio de Janeiro comemorava a posse do Presidente da Republica Hermes da Fonseca. A Bahia da Guanabara encontrava-se bem movimentada na manhã deste dia, com um bom número de navios com convidados para a festa de posse que seria dada pelo governo brasileiro. No contraponto desta felicidade toda, o maior navio de guerra da marinha brasileira, teria uma manhã de grande apreensão e revolta em decorrência da aplicação de um castigo físico, imposto ao marujo Marcelino Rodrigues Menezes. O motivo da aplicação da punição, estava centrado no ataque com golpe de navalha desferido por Marcelino, ferindo no rosto o Cabo Valdemar Rodrigues de Souza,  pois este tinha denunciado Marcelino de ter tentado levar para bordo do navio duas garrafas de pinga. A pena para a infração foi a aplicação da tão temida Chibata. O número de chibatadas aplicadas seria de 25, mas foi o total aumentado para 250.
   Logo após ser examinado pelo médico a bordo do navio, Marcelino teve a roupa da cintura para cima retirada, e  foi amarrado pelas mãos e pés. O comandante do navio, Capitão Batista das Neves, deu início ao ritual do castigo. Marcelino foi suspenso pelas mãos e ficou a espera dos carrascos, que logo entraram na cena trazendo consigo a Chibata, uma espécie de corda feita de linho recheada por agulhas de aço. Todos os oficiais estavam em traje de gala para a ocasião e ficaram observando o sofrimento do marujo, que varias vezes desmaiou de dor, mas mesmo assim, continuou sendo castigado.
   Na noite do dia 17 de novembro, os marujos decidiram se rebelar para por fim o castigo da chibata, o excesso de trabalho e a péssima alimentação que ganhavam. Decidiram formar comitês revolucionários com a intenção de organizar o movimento. Os encontros desses comitês eram conduzidos em terra, e os membros dos comitês faziam parte das tripulações dos vários navios de guerra. Sendo assim formado o comitê revolucionário, se organizou três reuniões, sendo o último encontro em número reduzido, por causa do baixo número de marujos que estavam em viagens. A reunião do comitê com maior número de participantes foi à segunda, onde os lideres prestam juramento enrolados com a bandeira da republica, alegando e prometendo defender veementemente a causa revolucionária.
“O primeiro grãozinho foi na organização dos comitês, já com título de comitês revolucionários. A intenção era aquela, logo que tivéssemos o elemento inicial para impormos às autoridades, a revolta teria que vir.”
(João Cândido, depoimento ao Museu de Imagem e do Som)
   Depois destas reuniões, ficou estabelecido que na noite do dia 22 de novembro, as tripulações dos navios de guerra iriam se rebelar e tomar a frota ancorada na Bahia da Guanabara. O sinal de inicio do movimento seria o toque de chamada das 22 horas. Cada membro da revolta assumiu sua posição sem despertar suspeitas. Cada canhão foi guarnecido em média com cinco marinheiros que tinham ordem de atirar para matar em quem ousasse impedir o levante.
   Assim que acabara o toque de recolher, o Capitão Batista das Neves que estava em um jantar no cruzador francês Duaguay Trouin, retorna ao encouraçado Minas Gerais em companhia do ajudante de ordens. Conversa rapidamente com o tenente Álvaro da Costa que fiscalizava a limpeza do convés e se recolhe aos seus aposentos. Bem no memento que descia as escadas inferiores do navio e se despedia do comandante, o segundo-tenente Mota Silva é atingido por um golpe de baioneta no peito aplicado por um marujo que estava de tocaia. O tenente em um pleno momento de dor, segura a baioneta do marujo, saca sua espada e lhe desfere um golpe certeiro no abdômen, o marujo dá um forte grito de dor chamando a atenção da tripulação.
    Atraídos pelos gritos, a marujada sobe ao convés, também da mesma forma que os oficiais, que logo procuram conter os ânimos dos marinheiros que gritando frases de efeito,“vivas a liberdade” e “abaixo a chibata” atacam o pequeno grupo de oficiais que estavam no convés. O comandante Batista das Neves ao tentar coibir a revolta, é atacado pelos marujos e tenta se defender com sua espada. Luta bravamente por dez minutos, mas é atingido com golpes de machadinhas na cabeça e morre logo em seguida.
   Após terminado os combates no convés do Minas Gerais, o líder da revolta, o marinheiro João Candido, determina que seja disparado um tiro de canhão para alertar aos outros navios de guerra: O cruzador rápido República, cuja tripulação ao receber o alerta, abandona a embarcação e embarcar nos demais navios envolvidos na revolta; o Bahia, o Minas Gerais e o São Paulo. O cadáver do Comandante Batista das Neves fica exposto no convés durante varias horas sendo alvo de chacotas. Tal atitude, ocorre como forma de vingança pelo tratamento dado aos marujos e aos exercícios forçados que o comandante obrigava há todos cumprirem diariamente. O marujo Aristides Pereira, ao se certificar do falecimento do comandante, urina no cadáver do mesmo. Nos cinqüenta minutos do embate no convés do Minas Gerais registrou um número de cinco oficiais mortos, quatro em combate e um suicídio. Pelo lado da marujada, duas mortes, e vários feridos, uns defendendo os oficiais outros lutando do lado dos marujos.







segunda-feira, 10 de maio de 2010

Na semifinal, vitória do Brasil por 5 a 2 sobre a França, com três gols de Pelé, Vavá e Didi, de "folha seca", também marcaram

Nas presentes lembranças referentes as derrotas para a França em 1998 e 2006, a seleção canarinho no século passado,  derrota a França do habilidoso Just Fontaine em 1958 e ruma ao estrelato e a gloria  na conquista do título de campeão mundial de futebol

CBF NEWS

   Após derrotar o País de Gales por 1 a 0 nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1958, com gol de Pelé, a Seleção Brasileira estava classificada para a semifinal. O adversário era a França, equipe de Just Fontaine, artilheiro do Mundial com 13 gols. A tarefa não era fácil, mas com três gols de Pelé, um de Vavá e um de Didi, o Brasil garantiu vaga na final da Copa do Mundo.
   O jogo aconteceu no dia 24 de junho de 1958, no Estádio Rasunda, em Estocolmo, sob o olhar atento de 27.100 espectadores que presenciaram uma das melhores partidas da Seleção Brasileira naquela Copa. Foram 43 chutes a gol, contra 23 da França.
   No primeiro tempo, com dois minutos de jogo, Vavá recebeu passe de Garrincha na marca do pênalti e abriu o placar. Just Fontaine empatou aos nove, após uma falha do goleiro Gilmar. Mas aos 39 minutos, Didi com o famoso chute de "folha seca" garantiu o 2 a 1 no primeiro tempo. Garrincha ainda teve um gol anulado aos 44 minutos.
   Na volta para o segundo tempo, três gols de Pelé. Logo aos sete minutos, o craque aproveitou rebote de chute de Zito e fez 3 a 1. O quarto gol foi aos 19 minutos, após passe de Vavá, e o quinto, aos 30 minutos, após passe de Didi. Piantoni, aos 38, diminuiu para a França. 5 a 2 o placar final.
  Com a vitória sobre a França, o Brasil se classificou para a final, contra a Suécia, no dia 29 de junho de 1958.
Veja a ficha técnica do jogo


BRASIL 5 x 2 FRANÇA
Data: 24 de junho de 1958.

Competição: Copa do Mundo.

Local: Estádio Rasunda, em Estocolmo (Suécia).

Público: 27.100 pagantes.

Árbitro: Mervyn Griffiths (País de Gales).

Gols: Vavá 2', Just Fontaine 9', Didi 39', Pelé 52', 64' e 75' e Roger Piantoni 83'.
Escalação da equipes:

BRASIL: Gilmar (Corinthians-SP), De Sordi (São Paulo-SP), Bellini (Vasco-RJ), Orlando Peçanha (Vasco-RJ) e Nílton Santos (Botafogo-RJ); Zito (Santos-SP) e Didi (Botafogo-RJ); Garrincha (Botafogo-RJ), Vavá (Vasco-RJ), Pelé (Santos-SP) e Zagallo (Flamengo-RJ). Técnico: Vicente Ítalo Feola.

FRANÇA: Claude Abbès, Raymond Kaebel, Robert Jonquet e André Lerond; Armand Penverne e Jean-Jacques Marcel; Maryan Wisnieski, Just Fontaine, Raymond Kopa, Roger Piantoni e Jean Vincent. Técnico: Albert Batteux.

Imagens do jogo:



Equipe do Brasil que venceu a França por 5 a 2: em pé, da esquerda para a direita: De Sordi, Zito, Bellini, Nílton Santos, Orlando Peçanha e Gilmar. Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e Mário Américo (massagista)

O gol de Vavá, aos dois minutos, que abriu o placar na vitória do Brasil por 5 a 2 sobre a França

Pelé aproveita rebote para marcar um de seus gols na vitória sobre a França

Pelé marca mais um de seus três gols sobre a França

1958: os preparativos da Seleção Brasileira para o título na Suécia

Fotos do período de treinamento e da chegada dos campeões do mundo

CBF NEWS

   O técnico Vicente Feola convocou 33 jogadores para a Seleção Brasileira que se prepararia para a Copa do Mundo de 1958, inicialmente nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá, onde foram realizados os treinamentos em que a comisão técnica começou a observar o grupo em que, ao final, 11 jogadores seriam cortados.
   Nos coletivos, uma curiosidade: a equipe treinava com uniforme de jogo, entre eles o de camisa azul, que já existia desde a década de 1930, ao contrário que se imagina ter sido usado pela primeira vez na decisão da Copa do Mundo de 1958.
   Nessa fase de preparação, no dia 4 de maio, o Brasil fez o primeiro amistoso, goleando o Paraguai por 5 a 1, no Maracanã. No dia 6 de maio, a comissão técnica dispensou o atacante Almir (Vasco), o zagueiro e também meio-campo Formiga (Palmeiras), o lateral-direito Cacá (Botafogo), o meio-campo Pampolini (Botafogo) e o goleiro Carlos Alberto Cavalheiro (Vasco).
   Ficaram 28 jogadores, que continuaram se preparando para os amistosos seguintes, no dia 7 de maio, novamente contra o Paraguai, e nos dias 14 e 18 de maio, contra a Bulgária, que serviram para o técnico Vicente Feola dispensar o lateral-esquerdo Altair (Fluminense), o goleiro Ernani (Bangu), o centroavante Gino (São Paulo), o zagueiro Jadir (Flamengo), o ponta-esquerda Canhoteiro (São Paulo), e o meio-campo Roberto Belangero (Corinthians), com o que ficou definido o grupo de 22 jogadores que viajaria para a Suécia.

Imagens da seleção brasileira em 1958

Equipe em um coletivo: De Sordi, Dino Sani, Zózimo, Castilho, Mauro, Cacá; agachados: massagista Mário Américo, Canhoteiro, Vavá, Almir, Dida e Zagallo 
 
Seleção Brasileira com a camisa azul: De Sordi, Oreco, Zózimo, Dino Sani, Castilho, Mauro e o técnico Vicente Feola: agachados: Mário Américo, Garrincha, Moacir, Vavá, Dida e Zagallo.

Treinamento da Seleção Brasileira no Maracanã: preparador físico Paulo Amaral, De Sordi, Zózimo, Zito, Nílton Santos, Castilho, Mauro e o técnico Vicente Feola: Joel, Moacir, Mazzola, Dida e Zagallo
 
Escalação em treino com a camisa azul: Djalma Santos, Gilmar, Bellini, o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho, Nílton Santos, Jadir e Zito; o massagista Mário Américo, Joel, Didi, Mazzola, Pelé e Pepe

Pelé, Mauro, Oreco, Dida e Djalma Santos, com o torcedor-símbolo Cristiano Lacorte (na cadeira de rodas), que viajou para a Suécia e se tornou nome de Travessa em Copacabana, no Rio de Janeiro

A Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, tomada pelo povo à espera da chegada dos campeões do mundo

O desembarque da delegação, em avião da Panair do Brasil

A Seleção Brasileira no desfile pelas ruas do Rio de Janeiro com a taça de campeão do mundo de 1958
 
 
 
 
 

domingo, 2 de maio de 2010

Friedenreich, o primeiro grande craque do Brasil

Atacante, que brilhou no futebol amador, é considerado um dos maiores jogadores do país

CBF NEWS

   Friedenreich, o El Tigre ou Fried, foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro, na época do futebol amador que durou até 1933.
   Filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira, Arthur Friedenreich nasceu no bairro da Luz, em São Paulo, onde aprendeu a jogar com uma bola feita de bexiga de boi. Poucos anos depois de Charles Miller chegar ao país, em 1894, trazendo o futebol como novidade, o Brasil revelou seu primeiro ídolo.
   Estreou na Seleção Brasileira em 1914, exatamente no primeiro jogo oficial, que foi contra o Exeter City, clube profissional da Inglaterra. Neste mesmo ano conquistou o primeiro título do Brasil na sua história: a Copa Roca. Posteriormente foi campeão sul-americano em 1919 e 1922, marcando o gol do título na prorrogação contra os uruguaios, na final histórica de 1919.
   Em 1925, voltou da Europa como um dos "melhores do mundo", depois de vencer, pelo Paulistano, nove dos dez jogos disputados. Um de seus mais incríveis feitos, ocorrido em 1928, foi a marca de sete gols numa única partida contra o União da Lapa, batendo o recorde da época. Ele jogava pelo Paulistano e o resultado final foi de 9 a 0, no dia 16 de setembro - no jogo, perdeu ainda um pênalti.
   Jogador do futebol paulista, Fried começou ainda adolescente na cidade de São Paulo, nos clubes Germânia (atual Pinheiros), Mackenzie, Ypiranga e o Paulistano. Já começava a se destacar pela imaginação, técnica, estilo e pela capacidade de improvisar. Foi campeão paulista em diversas oportunidades pelo clube Paulistano. Também atuou pelo São Paulo Futebol Clube da Floresta, precursor do atual São Paulo Futebol Clube.
   Depois de ter jogado um amistoso em 1917 pelo Flamengo, Friedenreich voltou ao Rio em 1935 para encerrar a carreira pelo clube rubro-negro, aos 43 anos de idade - morreu em 6 de setembro de 1969.



O goleiro uruguaio, Saporiti, com o auxílio dos zagueiros, intercepta um cruzamento que vai em direção a Friedenreich. O atacante brasileiro marcou o gol que deu o título ao Brasil


Seleção Brasileira de 1914

sábado, 1 de maio de 2010

Imagens da Seleção Brasileira: a evolução de alguns uniformes ao longo das décadas - parte I

1914 - uniforme todo branco com uma listra azul nas mangas  











1916 - uniforme com listras verde e amarela










1917 - uniforme de cor vermelha












1930 - uniforme branco com gola azul 











1939 - uniforme com camisa toda em cor azul e calção branco  


                                                                                                                                    

Seleção brasileira: Brasil vestido para ganhar

Seleção usou até camisa vermelha

por Rogério Andrade

A seleção brasileira completa em julho 92 anos de uma história repleta de glórias. Durante esse tempo, foram mais de mil jogos – e mais de 30 modelos de camisas utilizados. Algumas tiveram vida mais longa, como a amarela, e outras foram mais efêmeras, como a vermelha de 1917. Ao lado, dez camisas que fizeram história na nossa seleção.

1914 - Estréia no Rio

A seleção fez seu primeiro jogo oficial (em que reuniu boleiros de São Paulo e do Rio de Janeiro) contra o inglês Exeter City em 21 de julho de 1914, no Rio. Venceu por 2 x 0 e usou um uniforme todo branco com uma faixa azul na manga.

1916 - Veto na amarela

No 1º Sulamericano, na Argentina, o Brasil usou uma camisa listrada de verde e amarelo, que teve vida curta – a aristocracia não admitia que o uniforme do futebol, “esporte de vagabundos”, levasse as cores principais da bandeira. A camisa foi usada de novo em 1919.

1917 - Por sorteio

No 2º Sulamericano, no Uruguai, a seleção da casa e o Chile, assim como o Brasil, usavam camisas brancas. Num sorteio, o Brasil teve que trocar sua cor. O único jogo de camisas disponível nas lojas de Montevidéu era o vermelho – usado por nós sem escudo mesmo.

1919 - Branca micada

O uniforme branco e azul foi criado para o 3º Sulamericano, em que o Brasil foi campeão. A combinação também foi usada nas Copas de 1930, 34 e 38. Na Copa de 1950, perdemos a final para o Uruguai no Maracanã, 2 x 1, de virada. Assim, a camisa branca foi aposentada para sempre.

1954 - A canarinho

Após a derrota de 50, um concurso foi feito para a escolha do novo uniforme. O vencedor foi o gaúcho Aldyr Garcia Schlee. O novo uniforme, em verde e amarelo, estreou nas eliminatórias da Copa de 54. Nascia a camisa canarinho.

1958 - Cor da sorte

Na Copa da Suécia, o Brasil só levou a camisa amarela. Na final contra os suecos, também de amarelo, a seleção teve de procurar outra cor. A justificativa para a azul: a cor era a mesma do manto de Nossa Senhora. O título mundial a consolidou como a número 2.

1978 - Com listras

O Brasil assina um contrato com a Adidas para o fornecimento de material esportivo. O uniforme continua com suas cores, mas as mangas ganham três listras verdes. Na Copa somos os “campeões morais” – apesar de invictos, ficamos em terceiro lugar.

1981 - Ramo de café

Em 1979, uma troca de fornecedor: a argentina Topper. Em 1981, surge a Confederação Brasileira de Futebol e a seleção estréia um distintivo com a taça Jules Rimet e um ramo de café, patrocínio inédito do Instituto Brasileiro do Café.

1994 - Marca-d’água

Mais uma troca de fornecedor. Agora é a vez da inglesa Umbro. A nova camisa deu sorte. Logo na primeira Copa, o Brasil, de Romário, sagrou-se campeão. A camisa da Copa de 94, nos Estados Unidos, trazia uma marca-d’água na frente com o escudo da CBF.

2006 - Amarela básica

A gigante Nike – que assinara com a CBF em 1996 – faz uma camisa com grafismos no ano do penta, 2002. Em fevereiro de 2006, sai a da Copa da Alemanha: uma amarelinha mais básica. Em abril, o contrato foi renovado até 2018, a 12 milhões de dólares por ano.